Na primeira parte da coluna sobre o modelo de contratação de Internet fixa, sem franquia adicional – publicada em 22 de janeiro –, usou-se uma analogia com o serviço de energia elétrica. O paralelo entre as três camadas seria: geração de conteúdo (energia), transporte (“linhões”) e distribuição domiciliar. Na Internet, o conteúdo é gerado pelos membros da rede, nas pontas, e ele é grátis ou pago diretamente por assinatura.
Aos provedores caberia cuidar das duas camadas remanescentes: transporte e distribuição. A distribuição, já discutida, depende de uma estrutura local que deve ser projetada para atender à demanda média prevista (CIR, na sigla em inglês) e tem um custo médio invariável com o uso instantâneo. Tratemos do transporte.
Nos primeiros anos de nosso acesso à Internet, era natural que o conteúdo procurado estivesse no exterior, longe do usuário. Desta forma, o provedor teria de contratar uma banda adequada para trazer informação aos seus usuários. E esse custo, certamente, cresceria com a demanda. A analogia com a rede elétrica continua valendo: é preciso trazer mais eletricidade lá da usina para atender à demanda crescente dos usuários.
O que aqui acontece, entretanto, é que conteúdos frequentemente buscados no exterior acabam por migrar para perto dos usuários. Se na eletricidade “baterias” são usadas para fornecer energia instantânea sem demandá-la das “usinas”, na Internet usam-se “caches”. Mas há uma diferença fundamental: enquanto as baterias elétricas esvaziam com o uso e precisam ser recarregas, as “baterias de informação” da Internet não descarregam. Quando assisto a um filme por streaming, ele não é “gasto” e continua totalmente disponível para novo uso de todos.
Talvez uma analogia mais simples seria com TV por assinatura: o custo mensal não depende do tempo e dos canais aos quais o usuário assistiu.
A engenharia da Internet, automaticamente, traz para perto dos usuários a informação que eles mais usam. Com isso, o custo dos “linhões” da Internet deixa de subir na mesma taxa do consumo. Aliás, ao contrário da eletricidade ou da água, informações não são consumíveis. Os “bits” não se gastam com o uso e continuam sempre lá, disponíveis, usados ou não.
Os “caches”, as redes de distribuição de conteúdo (CDN) e os pontos de Troca de Tráfego são as baterias da rede. Informação disponível, barata e próxima do usuário. E, quanto mais previsível for o tipo de informação desejada, mais barato e eficiente será seu provimento. Nos pontos de troca de tráfego, geradores e consumidores de informação se interligam: os bits saem por uma porta e entram por outra, a caminho dos usuários e a um custo muito baixo.
Em resumo, o modelo de fornecimento por banda é viável, pouco sensível à previsível demanda crescente dos usuários. É um serviço estatístico, com limites impostos pela velocidade contratada e estrutura que atenda à média prevista, longe de ser uma Internet ilimitada.
Adaptando o final ao Rashomon e às historinhas de antanho, “nos pontos de troca de tráfego, a vai-se de porta a porta e... quem quiser que conte outra”!