domingo, 11 de dezembro de 2016

De 1998 a 2016

A função da IANA liga-se à necessidade de documentar os consensos atingidos na gestão da rede. É também o ponto de referência para recursos coordenados, como os nomes de domínio e números IP (Internet Protocol). Em uma rede aberta e distribuída como a Internet, para que não haja colisões, dúvidas ou incoerências em sua operação, coordenação é fundamental. 

A IANA, como tudo na Internet original, era quase informal, a ponto de se confundir com seu gestor, Jon Postel, falecido em 16 de outubro de 1998, o início da transição.

Postel (IANA) concentrou três papéis: o de editor dos RFCs (Request for Comments), documentos da rede que definem os padrões, protocolos e parâmetros a seguir; o de coordenador da distribuição global de números IP; e, o que se mostraria mais crítico, de gestor da raiz de nomes – a lista que agrega os “sobrenomes” básicos (.com, .org, .ar, .br, .eu etc) cujo acesso é indispensável a todos que usam a rede.

Cuidar da raíz inclui adicionar novos “sobrenomes”. Como exemplo, quando o .br, que não estava em uso mas com existência prevista na tabela de códigos de países ISO-3166, foi solicitado, Postel o delegou aos que operavam a rede acadêmica no Brasil em abril de 1989. A pouca coordenação de que a Internet necessita para funcionar concentra-se na ação da IANA.

Há em 1995 uma mudança importante: o registro de .com, .net e .org é repassado à iniciativa privada e o registro de nomes sob esses domínios passa a ser cobrado. Uma discussão sobre como “distribuir” essa receita levou a duas decisões: a criação da figura do “registrar”, com exclusividade no contato com os interessados em registrar domínios, deixando ao "registry" unicamente da parte técnica; e a ideia de criar mais domínios genéricos que competissem com os três existentes (.com, .net e .org).

Por seu lado o governo norte-americano, atento ao potencial de negócios que a Internet traria, chama o DoC (Departamento do Comércio) para a Internet, como “consolidador” da iniciativa acadêmica, onde já atuava Postel , apoiado por recursos do DoD (Departamento da Defesa).

A tensão crescente entre Postel e o governo foi marcada pelo “green paper” do DoC, fevereiro de 1998. Nele estava estabelecido que a IANA deveria ser profissionalizada e assumida por uma Instituição sem fins de lucro, multissetorial. A ICANN assume esse papel em setembro e tudo parece se encaminhar para uma solução de consenso: Postel assumiria a chefia técnica da ICANN e assim, dada a figura inconteste que ele sempre foi, a confiança seria mantida.

Ocorre que, como diria Nelson Rodrigues, o “Sobrenatural de Almeida” interveio e… Postel faleceu após duas semanas. A falta de alguém com a sabedoria e reconhecimento de Postel fez o governo americano recuar no repasse de IANA, firmando um contrato com ICANN em que se reservava o direito de aval em qualquer alteração na raiz de nomes. E esse contrato foi sendo renovado a cada três anos até ser encerrado em 2016. A transição, protelada pela morte de Postel, finalmente se completou 18 anos após.

Feliz Natal a todos!