Está em voga hoje, especialmente em tempos de Internet e de redes sociais, falar em “pós-verdade” O dicionário Oxford recentemente introduziu o verbete “pós-verdade” como um adjetivo “relacionado ou denotando circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes em moldar a opinião pública que os apelos à emoção e às crenças pessoais”. Além de chocar os que ainda creem mais em fatos que em deformações úteis, a definição espelha uma realidade que se infiltra, nem tanto subrepticiamente, entre nós. Aquilo que era tido apenas como uma “boutade”, uma frase espirituosa do ex-vice-presidente, o mineiro José Maria Alkimin, “o que importa não é o fato em si, mas sim a versão do fato” ganha espaço, momento e uma triste confirmação.
Diógenes, o Cínico, aquele que há 2500 anos perambulava pelas ruas de Atenas, com uma lanterna acesa em plena luz do dia “procurando um homem honesto”, sentir-se-ia superado pelo que ocorre nos “pós-tempos” de hoje. Do pós-modernismo à “pós-verdade” poucos resistem à tentação de falar, contra ou a favor de algo ou alguém, adicionando ou não algo de concreto ao discurso. É de Diógenes também a avaliação de que “dentre os animais ferozes, o que tem a mordedura mais perigosa é o delator, e dentre os animais domésticos, o adulador”.
São tempos fluidos, em que as novas possibilidades e dimensões trazidas pela internet não puderam ser, ainda, minimamente absorvidas, entendidas em sua extensão, incorporadas no corpo social de cultura e costumes. Hoje todos podem valer-se instantaneamente de um “lugar de fala” na rede, no que parece ser um “empoderamento” inimaginável há quarenta anos. É algo certamente positivo e auspicioso mas, associado à euforia da descoberta, ao inebriamento de novos e ilimitados horizontes, gera uma cacofonia de posicionamentos rasos e muitas vezes emprestados, de notícias verídicas misturadas a boatos, da incontinente repercussão instantânea de versões se sobrepondo-se a fatos. No início do tempos de Mao, na China, houve a implantação de um programa de “estímulo ao desabrochar de mil flores”. A ideia então era incentivar o surgimento das mais diversas discussões sobre qualquer linha de pensamento, de todas as teses e antíteses, visando abrir a fechada e milenar cultura chinesa às diferentes matizes de escolas internacionais de pensamento. Durou pouco e, paradoxalmente, redundou na instauração de uma única linha admissível, a do maoismo.
Não se trata de defender, nem de longe, qualquer limitação na expressão de ideias e de posicionamentos. A liberdade de expressão é valor central e inegociável do que hoje conhecemos como civilização. Mas espera-se que a balbúrdia acabe por decantar, que haja um maior amadurecimento e entendimento daquilo que nos abriu portas a avanços importantes. É alvissareiro poder usar livremente as novas ferramentas, tanto no apoio à consolidação do que nos pareça correto, como apostrofando e combatendo falhas morais. A Afinal, segundo o saudoso Millôr Fernandes, autor de tantas frases inesquecíveis: “jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Viremos a página da “pos-verdade”.
Diógenes, o Cínico, aquele que há 2500 anos perambulava pelas ruas de Atenas, com uma lanterna acesa em plena luz do dia “procurando um homem honesto”, sentir-se-ia superado pelo que ocorre nos “pós-tempos” de hoje. Do pós-modernismo à “pós-verdade” poucos resistem à tentação de falar, contra ou a favor de algo ou alguém, adicionando ou não algo de concreto ao discurso. É de Diógenes também a avaliação de que “dentre os animais ferozes, o que tem a mordedura mais perigosa é o delator, e dentre os animais domésticos, o adulador”.
São tempos fluidos, em que as novas possibilidades e dimensões trazidas pela internet não puderam ser, ainda, minimamente absorvidas, entendidas em sua extensão, incorporadas no corpo social de cultura e costumes. Hoje todos podem valer-se instantaneamente de um “lugar de fala” na rede, no que parece ser um “empoderamento” inimaginável há quarenta anos. É algo certamente positivo e auspicioso mas, associado à euforia da descoberta, ao inebriamento de novos e ilimitados horizontes, gera uma cacofonia de posicionamentos rasos e muitas vezes emprestados, de notícias verídicas misturadas a boatos, da incontinente repercussão instantânea de versões se sobrepondo-se a fatos. No início do tempos de Mao, na China, houve a implantação de um programa de “estímulo ao desabrochar de mil flores”. A ideia então era incentivar o surgimento das mais diversas discussões sobre qualquer linha de pensamento, de todas as teses e antíteses, visando abrir a fechada e milenar cultura chinesa às diferentes matizes de escolas internacionais de pensamento. Durou pouco e, paradoxalmente, redundou na instauração de uma única linha admissível, a do maoismo.
Não se trata de defender, nem de longe, qualquer limitação na expressão de ideias e de posicionamentos. A liberdade de expressão é valor central e inegociável do que hoje conhecemos como civilização. Mas espera-se que a balbúrdia acabe por decantar, que haja um maior amadurecimento e entendimento daquilo que nos abriu portas a avanços importantes. É alvissareiro poder usar livremente as novas ferramentas, tanto no apoio à consolidação do que nos pareça correto, como apostrofando e combatendo falhas morais. A Afinal, segundo o saudoso Millôr Fernandes, autor de tantas frases inesquecíveis: “jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Viremos a página da “pos-verdade”.