terça-feira, 6 de agosto de 2019

Sobrou porque deu!

Anos 80 resolvi fazer uma reforma em casa: um puxadinho para servir de escritório. Seria um pequeno quarto, com alguma fundação, quatro pilares e uma laje de uns 20 metros quadrados. Dois joões trabalhavam: o João Branco, mirrado, fala mansa, bom com a colher de pedreiro, era quem esticava argamassa e cuidava do reboco e acabamentos; e o João Preto, espigado, com um sorriso meio maroto, responsável pelo concreto, pela estrutura e a armação dos ferros. Estava marcado para um sábado o dia de fundir a laje, já montado o madeirame, providenciados roldana, corda, baldes e o material para o concreto. Terminado o enchimento, fui comprar o que era usual para a ocasião, tanto para os brindes, como para os bons auspícios: algumas cervejas e uns sanduíches. A laje estava bonita, bem cheia, e o João Preto sapateava sobre ela para mostrar que tudo estava sólido. Num canto, um caixote de massa, ainda cheio.

– Ô João, e essa massa aí? Sobrou, né?

– Claro, seu Demi. Sobrou porque deu. Se não tivesse sobrado, teria faltado!

Eis aí uma verdade universal enunciada: não existe o zero. Se algo não sobra, é porque faltou! Listo casos que reforçam a lei. Queremos um CPD que funcione ininterruptamente? Entre outras coisas, temos que nos prevenir contra quedas de energia. Parece simples: basta colocar um banco de baterias e instalar um “no-break”. Mas... e o ar-condicionado? O “no-break” não conseguirá sustentar o ar condicionado funcionando. Fácil, adicionamos um gerador. O “no-break” precisa apenas aguentar os computadores por alguns minutos, até entrar o gerador, que suportará também o ar condicionado. Mas, e se a bendita queda da força acontecer exatamente quanto estávamos fazendo manutenção nas baterias ou “no-break”?

Para escapar desse risco precisaremos de dois conjuntos de reserva, para que ao menos um esteja sempre à disposição. O mesmo ocorre com o gerador: se houver um só e estiver em manutenção programada ou apresentar falha, estaremos a pé de novo. Um otimista diria que esse conjunto de ocorrências é improvável...

Improvável pode ser, mas impossível não é – basta lembrar do Titanic... Em resumo, para evitar falhas em equipamentos críticos deve haver redundância suficiente que inclua, por exemplo, indisponibilidades de módulos de reserva. Para posições críticas devemos fazer como no futebol: é melhor levar dois reservas para o goleiro...

Quando dimensionarmos recursos de banda e processamento na internet, é temerário levar em conta apenas o pico de uso previsto. Bastará um ataque de negação de serviço para atolar máquina e banda. Mesmo com medidas de atenuação, o remédio viria depois do estrago feito. Há que superprovisionar. O mesmo se passa com o DNS na resolução de nomes de domínios na rede: espalham-se diversos servidores DNS para resistir bem a ataques. O .br tem vários servidores, um deles alocado na Alemanha. Como contrapartida, o .de tem um servidor no Brasil. Cooperação para segurança segue sendo mote central da internet.

E a segurança nossa, pessoal, de cada dia? Claro que é importante usar senhas fortes, que não sejam vulneráveis a ataques “força bruta”, mas os realmente prevenidos usarão autenticação com dois fatores. Afinal, se não sobrar segurança, ela vai faltar!

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