Neste junho a coluna completa sete anos e sete é um número especial. Se, por um lado, Camões nos lembra que Labão serviu sete anos para obter Raquel, mas ficou com Lia, por outro há uma deliciosa comédia dos anos 50 “The seven year itch” e que para nós foi trazida como “O pecado mora ao lado”. Assim, cedendo aos pruridos que os tais sete anos provocam, e já pedindo as vênias de praxe, cometerei o pecadilho de navegar em águas que não albergam meu “lugar de fala”, um simples engenheiro, mas que me permitirão alguns comentários pontuais: nossa língua, de que sou incompetente mas ardoroso defensor.
Veja-se, então, o uso de palavras exóticas, especialmente importantes e frequentes em campos como tecnologia e informática. Sendo a língua viva e dinâmica, os novos conceitos exigem a importação ou criação de palavras, especialmente quando não se encontra um sinônimo adequado. Neologismos são importantes. Lembro-me, por exemplo, do professor de português do ginásio tentando inutilmente convercer-nos a usar “ludopédio” ou “pedibólio” em lugar de “futebol”: uma cruzada quixotesca. Era mais que evidente e lógico que “futebol” seria o termo a prevalecer: importação adequada e razoável. Mas o desarrazoado e pretencioso seria escrever-se “football”. Penso que sempre se deva aportuguesar as palavras exóticas que passaem a se incorporar à “última flor do Lácio”. É o que ocorreu com cheque, voleibol, basquete, sutiã, abajur e tantas outras que se integraram ao português. Usar um estrangeirismo sem adaptá-lo à grafia nacional, pediria o uso de “muletas” como aspas ou itálico... Millôr Fernandes escrevia “saite” quando se referia às páginas da Internet - afinal os garotos que começam a estudar a língua não podem imaginar que o “i” em “site” tenha estranhamente o som de “ai”. E já que me atolei nesse tema, sigo no pântano: para mim, por exemplo, a reforma que eliminou o trema é elitizante! O trema em “freqüente” ensinaria aos alunos que o “u” é audível nesta palavra, ao contrário de “quente”, onde o “u” é mudo. Sem o trema, um autodidata, ou alguém menos familiarizado com a língua culta, estaria exposto à segregação por mostrar pronúncia deficiente.Ainda em neologismos, a pressa em criar palavras novas nem sempre permite a devida atenção à semântica das raízes que as compõem. Todos sabemos que “fobia” é “medo”, enquanto “ódio” é “misia”. O misógino odeia mulheres, e misantropo odeia humanos. Mas a torto e a direito vê-se o uso de “fobia” como “ódio” ou “aversão”. Nessa linha esquisita - e já pedindo desculpas pelo chiste - o que seria hoje um “claustrofóbico”? Alguém que “odeia mosteiros”? Nas justaposições, outro exemplo que me deixa incomodado é “paralímpico”. A junção de “para” com “olimpico” deveria dar “parolimpico”, como sempre se fazia. Como exemplo, gastro + enterologia dá gastrentorologia, e não “gastronterologia”.
O mais triste é ver a mera substituição de palavras nossas, perfeitamente expressivas e utilizáveis, apenas com a intenção de mostrar sofisticação ou atualidade. Cartazes apregoando “sale” em lugar de “liquidação”, “off” em lugar de “desconto”, ou “delivery” no lugar de “entrega a domicílio”. Nem haveria o que aportuguesar aí, dado que já tínhamos o equivalente em nossa língua. Sou diabético e peço refrigerantes dietéticos, mas me dizem para pedi-los “dáite”.
Não se pode minimizar a necessidade de adição de elementos novos em nossa língua. Em tempos tão dinâmicos, a iimportação se impõe com frequência. Mas ao fazermos esses enriquecimentos, que as novas palavras sejam escritas na forma prosódica de nossa língua. Nesse ponto podiamos seguir um pouco mais de perto o que nossos irmãos lusos usam e fazem. Claro que poderemos e deveremos sempre adicionar nosso tempero tropical (ou será ele “spicy”?). Perdão, leitores!
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